terça-feira, 19 de junho de 2012

A questão do talento


A questão do talento.
por: Deuseni Martins

       A questão é se todos os homens podem, trazem em si a potência pra serem artistas. E a essa tarefa, que não é propriamente uma tarefa, venham a dedicar o seu destino. Essa reflexão nos remete ao diálogo platônico “Protágoras”, no qual é discutido se a virtude é inata ou se ela pode ser ensinada. Aqui se justifica mencionar Platão, na medida em que a nossa padronizada, bem esculpida cabeça ocidental, está evidentemente cimentada lá, nos mais famosos diálogos – artistas devidamente incluídos.

      Perguntamos: a arte pode ser ensinada ou é faculdade inerente e disponível a todos os humanos? É difícil pensar, por exemplo, em uma criança que não goste de rabiscar, mas daí a tornar-se um artista é outra historia. Além de uma habilidade especial o artista cresce potencializando características que o diferenciam do comum. Num jeito único de sentir o mundo está nele a curiosidade, o labor, a reflexão, e a paixão principalmente. E como tudo tem um preço, responsabilidades lhe são atribuídas, já que ele tem o poder de criar, recriar e expandir ideias.

    De que forma o artista poderia retribuir ao mundo por esse lote de habilidades especiais e tão preciosas? É outro viés da questão aqui. Há um ponto em que o artista já pode tudo. Reconhecido, aplaudido e amado - ele tem suporte para dar desmedida vasão à sua vontade de criar, e superar limites. A vaidade inevitável está em alta, como em um insaciável Leviatã. E sendo grande o artista está apto a operar no mundo. Ele é, por excelência, o fazedor de arte.

    No entanto, como alguém se torna assim um completo artista? Nascendo pronto? Vamos evitar o sentido relativo, que é um terreno traiçoeiro, sem fundo. Mas como, simplesmente, isso na prática funciona? Tomemos o caso de uma criança cujo pai dirige uma escola de arte - ainda nas fraldas ela seria direcionada de modo que jamais se tornaria outra coisa senão um artista: escritor, ator, musico, pintor... Poderia tal criança obter bom resultado seguindo esse caminho natural, facilitado pelas circunstâncias? Funcionaria bem, ou não vingaria a arte sem o que chamamos de talento?

     Ou seria ilusório acreditar que na arte muitos de nós sobressaíram valentemente a despeito de toda imposição contrária e todo sacrifício aposto? Seriam artistas que arrebentaram todos os paradigmas e acima de toda limitação abriram, à força, o seu caminho à criação plena. Mesmo porque, nos parece, não havia como fugir a essa sina, visto que não seria possível viver sem assumir esse dom quase divino. Sem dúvida há incontáveis casos em que se reconhece que o talento superou todos os empecilhos e o homem se tornou Hefesto - se tornou “o artista”. De todo modo, a vida é permeada de mistérios, então como saber que forças agiram sobre humanos, em favor da arte imortal?  
                                                                                               


Deuseni Martins
16/ jun/12.

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