quinta-feira, 4 de abril de 2013

Artistas Nipo-brasileiros em São Paulo, retrospectiva .



Tomoo Handa.
Tradicionalmente, as artes visuais se tornaram um campo privilegiado para a atuação dos artistas nipo-brasileiros.  Alguns críticos encontram, entre os artistas nikkei, traços de peculiariedade: a sensibilidade e uma constante busca pela afirmação da identidade, de acordo com Ana Paula de Nascimento, do Núcleo de Pesquisa em Crítica e História da Arte, da Pinacoteca de São Paulo, que tem importante acervo sobre esse grupo.

“Sensíveis às novas poéticas de cada período, há uma necessidade vital de expressão, em que gestos mínimos e contidos podem representar o todo, ainda que de maneira extremamente pessoal, mas com característias comuns, com o sentimento na pintura”, afirma a pesquisadora, no ensaio “Nipo-brasileiros no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo”.

O grupo de artistas nikkei guardam em comum a relação de proximidade com a natureza, também pelo fato de os artistas terem sido imigrantes e trabalhado na terra, como lavradores e artesãos.  Por causa do trabalho, muitos tiveram dificuldade em fazer cursos de arte,  seguindo  cursos livres ou profissionalizantes. As restrições sofridas pelos imigrantes japoneses na Segunda Guerra Mundial interceptou a formação de muitos deles.

Tikashi Fukushima
Tikashi Fukushima
Um dos primeiros imigrantes a ter destaque no Brasil foi Manabu Mabe, premiado na V Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1959.  Nessa época, vários outros artistas, como Tomie Ohtake, Tikashi Fukushima e Flávio Shiró  também começaram a chamar a atenção da crítica.

O pioneiro das artes visuais nikkei no Brasil foi Tomoo Handa, gerente de pensão, professor de português e escritor (autor de “O imigrante japonês”, obra de referência para pesquisadores da história da imigração japonesa ao Brasil). Outros pintores pioneiros foram Kenjiro Masuda, Hajime Higaki, Takeshi Suzuki, Walter Shigeto Tanaka , Takaoka .

Em 1935, fundaram o primeiro grupo de artes visuais em São Paulo, o Zoo-kei Bijutsu Kenkyu-kai ou Seibi-kai. Seu objetivo era a pesquisa crítica e divulgação do trabalho dos artistas, ainda que num primeiro momento, apenas na comunidade nipo-brasileira.  Zoo-kei quer dizer “que dá forma”, “representação da forma”, Bijutsu “artes plásticas”  Kenkyu, “pesquisa” e “estudo”. Tomoo Handa traduz a expressão Seibi-kai como sei, abreviação de”Sáo Paulo”,  bi “artes plásticas” e kai, “agremiação”.

A primeira exposição foi em 1938, no Clube Nippon, restrita à comunidade nipo-brasileira. Os pintores do grupo saíam juntos nos finais de semana para retratar a natureza. Entre sua produção, a paisagem, o retrato e o auto-retrato têm destaque. Fizeram intercâmbios com outros grupos artísticos, como o Santa Helena.

Masao Okinaka
Masao Okinaka
Com as restrições de liberdade impostas aos imigrantes japoneses durante o período da Segunda Guerra Mundial, o grupo se recolheu. Faziam pinturas em ambientes internos, proliferando naturezas-mortas, retratos e autorretratos. O grupo voltou a se reunir publicamente em 1947, depois da queda das restrições. Todos os artistas que se reuniam anteriormente voltam a se encontrar. Ainda se agregam Flávio Shiró, Masao Okinaka, Mitsuo Toda e Kenjiro Masuda. Depois, ainda vêm Tomie Ohtake, Alina Okinaka, Jorge Mori, Manabu Mabe, Kazuo Wakabayashi, Tikashi Fukushima, Teiti Suzuki , Bin Kondo, Tsukika Okayama, Sachiko Koshikoku, Hisao Sakakibara, Yukata Toyota, Hisao Ohara, Ken’ ichi Kaneko, Masumi Tsuchimoto, Mari Yoshimoto e Tomoshigue Kusuno.

O primeiro Salão Nipo-brasileiro de Artes do Grupo Seibi-kai acontece em 1952. Ao todo, foram realizados 14 salões. Nos seus 18 anos de existência, o Sei-kai consagrou nipo-brasileiros, marcando uma convivência de artistas de diversos estilos.  Há o figurativo Tomoo Handa, as aquarelas modernistas de Takaoka, o expressionismo de Shiró, as paisagens quase metafísicas de Mori, as sínteses de Okinaka.

Os artistas passam,também, a expor individualmente, fora do circuito da comunidade nikkei. É  fundado  outros grupos: o  Grupo dos 15 de o Guanabara. O Grupo dos 15 também era chamado  Jacaré, referência ao jogo do bicho, disseminado entre os imigrantes, como conta Tomoo Handa em “O imigrante japonês”.  E o Guanabara forma-se nos anos 50, em torno de Fukushima.

Tomie Ohtake, 1961
Tomie Ohtake, 1961.
O abstracionismo passa a influenciar a obra dos imigrantes japoneses. A premiação de Mabe na V Bienal  chama a atenção para os abstratos japoneses.  Mabe faz parte da linha do abstracionismo gestual. Fukushima, por sua vez, segue o construtivismo. Shiró, o expressionismo. Wakabayashi  faz pesquisas materiais e tonais.  Toyota, formas tridimensionais e em aço. E Tomie Ohtake explora diferentes suportes, técnicas e questões, dentro do construtivismo. A explosão dos abstratos se dá na década de 1960.

Começam a se destacar os artistas que dedicam à escultura e à cerâmica. A premiação de Victor Brecheret na bienal revigora essas categorias artísticas. Entre os nipo-brasileiros, revelam-se Hisao Ohara, Tomoshigue Kusuno e Mari Yoshimoto. Essa, como Toyota, começou na pintura e mudou para a escultura. Outros ceramistas japoneses renomados são Megumi Yuasa, Akimori Natakani, Kimi Nii e Shoko Suzuki.

Os artistas nikkei do pós-guerra têm formação mais sofisticada. Boa parte deles têm formação universitária em cursos de artes plásticas e arquitetura, como  Hiro Kai, Lydia Okumura, Mário Ishikawa, Ayao Okamoto,  Roberto Okinawa e Takashi Fukushima. Com a valorização dos abstratos, os artistas nikkei também passaram a ser valorizados pelas galerias.

A partir de 1990, os artistas nikkei passam a não se diferenciar dos demais artistas brasileiros.  Mas surgem nomes que se destacam, como Futoshi Yoshizawa, Herman Tacasey, James Kudo, Naoto Kondo e Yasushi Taniguchi.

São realizadas grandes exposições de artistas nipo-brasileiros.  A primeira é a mostra de parte das obras apresentadas no salão Seibi-kai de 1964, no Museu de Arte Moderna. A exposição no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, em 1966. E a exposição Grupo Seibi- Grupo Santa Helena: década de 35-45, apresentada no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, em 1977.

Na Pinacoteca, a primeira exposição aconteceu em 1983, comemorando os 75 anos da imigração japonesa ao Brasil.  Era uma mostra composta por 90 obras de 44 artistas, abrangendo desde os pioneiros até os contemporâneos.  Nos 100 anos da imigração, em 2008, foi realizada a exposição Nipo-brasileiros no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.  A exposição gerou um catálogo. As  informações desse artigo foram extraídas desse livro. (MK)

Fonte :
http://www.jornalmemai.com.br/2013/03/20-artes-a-historia-do-seibi-kai/

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