quarta-feira, 10 de abril de 2013

Londres , Fotógrafo brasileiro - Sebastião Salgado - abre exposição " Gênesis "


GÊNESIS/FOTOGRAFIA - 
Artigo publicado em 09 de Abril de 2013 - Atualizado em 09 de Abril de 2013

Fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado abre exposição em Londres

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, na abertura de sua exposição "Genesis", em Londres, nesta terça-feira, dia 9 de abril.
O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, na abertura de sua exposição "Genesis", em Londres, nesta terça-feira, dia 9 de abril.
REUTERS/Suzanne Plunkett

RFI
Oito anos de viagens por 32 países, visitando lugares inóspitos e com praticamente nenhuma inteferência pelo homem moderno. Essa foi a odisséia realizada pelo aclamado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado entre 2004 e 2011 para produzir seu mais novo trabalho, batizado de Gênesis. A abertura da exposição em Londres teve a presença do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, amigo pessoal de Salgado.

Ulisses Neto, correspondente da RFI em Londres
A obra do fotógrafo brasileiro, que reúne 200 fotos, foi apresentada pela primeira vez na noite desta terça-feira em Londres, no Museu de História Natural da cidade.
Iniciando sua jornada pelas ilhas Galápagos, na costa do Equador, Salgado visitou os extremos do planeta em busca de imagens fascinantes e únicas.
Falando em inglês durante a abertura de sua exposição, o fotógrafo explicou que no final dos anos 1990, ao encerrar seu projeto sobre movimentos migratórios, estava doente diante de tanta atrocidade vista. Por isso, ao lado da esposa, e curadora do projeto Gênesis, Lélia Salgado, decidiu que era o momento de recuperar as energias em contato com a natureza, começando com um retorno ao Brasil
Gênesis ficará em Londres até o próximo dia 8 de setembro, antes de seguir para cidades como Toronto, Roma, Rio de Janeiro e Paris.

Fonte :
http://www.portugues.rfi.fr/geral/20130409-fotografo-brasileiro-sebastiao-salgado-inaugura-exposicao-em-londres 


Gênesis por Sebastião Salgado


Nascido em 8 de fevereiro de 1944 na cidade de Aimorés (MG), Salgado é um mestre do enquadramento e da luz. Neste projeto são reveladas em todas as tonalidades o preto e branco, já que nunca usa outras cores em seus trabalhos.










Em outubro de 2006 tive a sorte de entrevistar Sebastião Salgado para um jornal de Belo Horizonte. Uma exposição com as primeiras imagens que ele havia produzido para o projeto Gênesis iria ser aberta no Museu de Artes e Ofícios e achei que era a oportunidade de falar com o fotógrafo que sempre admirei. Os primeiros contatos com as assessorias, entretanto, não foram nada animadores: informaram que ele estava de passagem pelo Brasil, mas que não estava disponível para entrevistas, que estava com a agenda completa e que não viria a BH para a abertura da exposição.

Depois de várias tentativas sem resultado, tentei um caminho dos mais prosaicos. Naquela época eu também trabalhava como professor em uma faculdade na cidade de Congonhas e tinha uma aluna que dizia ser afilhada de batismo de Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo. Comentei com a aluna sobre a dificuldade para conseguir a entrevista e dias depois ela me passou um telefone de contato em São Paulo. Liguei e falei com uma secretária sobre o pedido de entrevista, expliquei que poderia ser por e-mail. Para minha surpresa, ela pediu que eu aguardasse na linha e em poucos minutos o próprio Sebastião Salgado estava ao telefone. Ele atendeu e foi muito gentil, mas com uma ressalva: a entrevista teria que ser breve, brevíssima, porque ele estava esperando o carro que o levaria ao aeroporto. Conversamos durante mais ou menos 15 minutos. Confira um trecho da entrevista:




Pergunta – Como foi que Sebastião Salgado descobriu a fotografia?

Sebastião Salgado – 
Foi completamente por acaso. Na época eu e minha esposa, que é arquiteta, vivíamos em Paris e estávamos impedidos de retornar ao Brasil por muitos anos por razões políticas. Ela comprou uma câmera para tirar fotos de edifícios e, como eu sempre acompanhava o trabalho dela, comecei a olhar através da lente. Foi aí que a fotografia começou a invadir minha vida. Quando terminei meu doutorado em Economia, abandonei tudo para dedicar mais tempo a meu filho, que tem Síndrome de Down, e comecei uma nova vida como fotógrafo. Isso ainda é minha vida hoje.

Nossa época testemunha a passagem do equipamento analógico para as mídias digitais. As novas tecnologias da imagem, na sua avaliação, trouxeram mais qualidade para a fotografia?
 

Eu fotografei com rolos de filme por muitos anos, mas agora que estou começando a trabalhar com equipamento digital, percebo que a diferença é enorme. A qualidade é inacreditável: eu não uso flash e com o equipamento digital posso até mesmo trabalhar em condições de luz muito ruins. Além disso, é um alívio não perder mais as fotografias para máquinas de raios-x nos aeroportos.


Imagens do projeto Gênesis: acima, pesca da tribo Waurá
 na laguna Piulaga, na Amazônia, e ritual dos Waurá no Kuarup

Qual dos mestres da fotografia mais influencia seu trabalho?

Todos eles (risos). Mas quando eu estava começando, tive a incrível sorte de conhecer Cartier-Bresson em Paris. Lembro até hoje das palavras dele, muito velhinho, dizendo que era preciso confiar nos meus instintos mais sutis para fazer um trabalho que tivesse algum valor além do registro banal. Acho que foi a principal lição que já ouvi em toda a minha vida.

Tem algum projeto agendado para depois da série Gênesis?

Nos próximos anos, pretendo me dedicar a este projeto para que ele esteja completo e tenha um certo alcance. O que está agora em exposição é apenas uma pequena parte dele, uma prévia, com as fotografias que eu tinha feito em Galápagos, no Virunga, que é um parque nacional entre o Congo, Uganda e Ruanda, e a Península Valdes, na Argentina. O Gênesis surgiu há dois anos e tem como objetivo despertar a atenção das pessoas para conceitos de biodiversidade, de sociodiversidade e do papel que todos nós devemos ter na conservação ambiental. Metade do planeta Terra ainda está intacta e pretendo me dedicar através da fotografia para mostrar a parte que a ação do homem ainda não destruiu. Acredito que podemos compreender o que ainda é possível preservar.

O que Sebastião Salgado ainda não fez, mas pretende fazer? 
 
Pretendo continuar o trabalho que venho desenvolvendo. Devemos estar todos cientes de que o planeta está passando por uma situação limite, uma situação muito grave que ninguém pode ignorar. O homem já destruiu mais da metade do nosso planeta e não pode seguir nesta depredação brutal. Se eu puder contribuir com uma pequena parte para a preservação, se eu puder tocar o coração das pessoas, meu objetivo terá sido alcançado. Talvez este seja meu último longo projeto, mas não tenho do que reclamar. Muito pelo contrário. Tenho vivido uma vida extremamente privilegiada. Visitei mais de 120 países, vi muitas pessoas diferentes, vi coisas maravilhosas e coisas terríveis. 




Sebastião Salgado em ação na África, fotografado por
seu filho, Juliano Salgado, e imagens de Gênesis: campo
de gado da tribo Dinka, sul do Sudão, e guerreiro Dinka com
a pele coberta de cinzas para proteção contra insetos e parasitas

 

Próxima exposição

Hoje, seis anos depois daquela entrevista por telefone, encontro uma notícia publicada no jornal inglês “The Guardian” sobre a próxima exposição de Sebastião Salgado. Será uma seleção de imagens inéditas registradas desde o início do projeto Gênesis, em 2004, no qual o fotógrafo desvia seu olhar da temática que o consagrou – a condição humana em meio às desigualdades sociais – para apresentar lugares e comunidades que ainda não foram tocadas pela mão do homem ocidental. A exposição está agendada para o início de 2013 no Museu de História Natural de Londres.

Segundo a reportagem do “The Guardian”, além da abertura da exposição em Londres, também estão previstos para o início de 2013 dois lançamentos importantes sobre o trabalho de Sebastião Salgado: um catálogo dividido em dois volumes, com os registros fotográficos do projeto Gênesis, e ainda o documentário “A Sombra e a Luz”, que está sendo produzido pelo alemão Wim Wenders e que conta com a colaboração de Juliano Salgado, filho do fotógrafo.




Gênesis: imagens do Alto Xingu, na Amazônia, com
 guerreiro da tribo Kuikuro, família de Takara Kamayura e
menina na oca, depois de um ano em reclusão por causa da sua
 primeira menstruação, se prepara para entrar no mundo e casar

Dividido em quatro blocos, intitulados “Criação”, “Arca de Noé”, “Homem Antigo” e “Sociedade Antiga", o projeto Gênesis, que tem financiamento da Unesco, apresenta para o mundo as paisagens naturais mais preservadas e distantes da interferência humana. O objetivo, anunciado por Sebastião Salgado já naquela entrevista em 2006, é registrar os últimos cenários intocados do planeta Terra e o modo de vida de tribos e comunidades que preservam suas tradições ancestrais.

Desde 2004, Sebastião Salgado já percorreu lugares ermos em territórios dos cinco continentes, com especial interesse em regiões como Sudão, Namíbia, Patagônia, Antártica, Indonésia, Cazaquistão e Brasil, onde o fotógrafo passou uma temporada no Pará acompanhando a vida cotidiana da tribo Zo'e. No site do “The Guardian” estão disponíveis imagens do projeto Gênesis e um vídeo que mostra o trabalho do fotógrafo durante a temporada com os índios no Pará. Além do “The Guardian”, imagens do projeto Gênesis também foram publicadas desde 2004 na França (“Paris Match”), Estados Unidos (“Rolling Stone”), Espanha (“La Vanguardia”), Portugal (“Visão”) e Itália (“La Repubblica”). 






Gênesis: aborígene caçando pássaros no Deserto de Kalahari,
 no sul da África; moradores do Vale de Lalibela, na Etiópia;
e uma grande manada de búfalos selvagens no Kafue, Zâmbia
 
Apontado como um dos mais premiados e respeitados fotojornalistas da atualidade,Sebastião Ribeiro Salgado Júnior é mineiro de Aimorés e nasceu no dia 8 de fevereiro de 1944. Formado em Economia, trabalhava na Organização Internacional do Café até 1973, quando decidiu se dedicar integralmente à fotografia. Depois da publicação de seus primeiros trabalhos, foi contratado pelas agências de fotografia Sygma e Gamma. Em 1979, entrou para a Agência Magnum e dois anos depois foi pautado para uma série de fotos nos EUA sobre os primeiros 100 dias do governo de Ronald Reagan.

Até que aconteceu o imponderável da sorte: acompanhando a comitiva do presidente em Washington, na tarde do dia 30 de março de 1981, Salgado foi o único fotógrafo a registrar o atentado a tiros sofrido por Reagan. A venda daquelas fotos para jornais e revistas do mundo inteiro permitiu ao fotógrafo financiar seus primeiros projetos pessoais de viagens pelos locais mais remotos do planeta. Em 1994, abriu sua própria agência, a Amazonas Images. 




Sebastião Salgado presenteia o presidente Lula com
 o livro "Trabalhadores", em outubro de 2006 (foto de
 Wilson Dias/ABr). No alto, as fotos de Salgado no
 atentado contra o presidente Ronald Reagan,
 publicadas pela revista Manchete em 1981

Desde então, tornou-se embaixador do UNICEF, criou em sua terra natal (a fazenda Bulcão, em Aimorés) uma reserva ambiental como sede do Instituto Terra, gerenciado por ele e por sua esposa, e publicou vários livros com seleções de suas fotografias, sempre com imagens em preto e branco que denunciam a violação dos direitos humanos em meio a situações de guerra, de pobreza e de outras injustiças. Entre seus livros de fotografias, sempre lançados em parcerias com instituições humanitárias e com exposições internacionais itinerantes, estão “Trabalhadores” (1996), “Terra” (1997), “Serra Pelada” (1999), “Êxodos” (2000), "O Fim da Pólio" (2003) e “África” (2007). Na introdução de “Êxodos”, Sebastião Salgado escreveu:

"Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes no mundo inteiro. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas. Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma.”

por José Antônio Orlando.







Gênesis: a partir do alto, nativo da tribo Yali em caçada nas montanhas
 Jayawijaya de Irian Jaya, na Papua Ocidental, Indonésia; o refúgio
da  vida selvagem no extremo norte do Alaska; pinguins Chinstrap
 sobre icebergs nas Ilhas Sandwich do Sul, Antártica; uma menina
no ritual do peixe sagrado, no Alto Xingu, Amazônia; e a pata de
 um lagarto nas Ilhas Galápagos, Equador


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