segunda-feira, 13 de maio de 2013

História das Artes Plásticas no Brasil


História das Artes Plásticas no Brasil

Pode-se considerar as manifestações artísticas indígenas,como os adornos feitos com plumas,a pintura corporal e a cerâmica,como a origem das artes plásticas brasileiras.No entanto,foi com a chegada dos portugueses e o consequente contato com a arte européia que o País iniciou verdadeiramente o seu desenvolvimento artístico,gerando obras e artistas de renome internacional.




A primeira questão que se coloca em relação a arte indígena é defini-la ou caracterizá-la entre as muitas atividades realizadas pelos índios.
Quando dizemos que um objeto indígena tem qualidades artísticas,podemos estar lidando com conceitos que são próprios da nossa civilização,mas estranhos ao índio.Para ele,o objeto precisa ser mais perfeito na sua execução do que sua utilidade exigiria.Nessa perfeição para além da finalidade é que se encontra a noção indígena de beleza. Desse modo,um arco cerimonial emplumado,dos Bororo,ou um escudo cerimonial,dos Desana,podem ser considerados criações artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de sua perfeita realização (História da Arte,Graça Proença,pág.190)

(Escudo Cerimonial dos índios Desana)

É apenas a partir do século XVIII que as artes plásticas brasileiras são impulsionadas,seguindo de certa forma os estilos e movimentos europeus.

O Barroco


O estilo barroco desenvolveu-se plenamente no Brasil durante o século XVIII,perdurando ainda no início do século XIX.Nessa época,na Europa,os artistas há muito tempo tinham abandonado esse estilo,e a arte voltava-se novamente para os modelos clássicos.

O Barroco brasileiro é claramente associado a religião católica.Por todo o país,são inúmeras as igrejas construídas segundo os princípios desse estilo.Mas há também muitos edifícios civis - como cadeias,câmaras municipais,moradias de pessoas ilustres - e chafarizes que apresentam nítidas características barrocas.

(Fachada da Igreja de São Francisco,em Salvador)

(Chafariz do Museu da Inconfidência)

Duas linhas diferentes caracterizam o estilo barroco brasileiro.Nas regiões enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração,encontramos igrejas com trabalhos em relevo feitos em madeira - as talhas recobertas por finas camadas de ouro,com janelas,cornijas e portadas decoradas com detalhados trabalhos de escultura.É o caso das construções barrocas de Minas Gerais,Rio de Janeiro,Bahia e Pernambuco.


Já nas regiões onde não existia nem açúcar nem ouro,a arquitetura teve outra feição.Aí as igrejas apresentam talhas modestas e trabalhos realizados por artistas menos experientes e famosos do que os que vivam nas regiões mais ricas da época.(História da Arte,Graça Proença,pág.196).

(Teto da capela-mor da igreja do Carmo,em Itu,pintura de frei Jesuíno do Monte Carmelo)

Apesar das influências europeias sofridas pelos brasileiros inicialmente,teve início nesta época o que pode ser considerado como a verdadeira arte nacional,já que as temáticas abordadas eram mais brasileiras e os materiais,abundantes,como madeira e pedra sabão.Os maiores expoentes da arte barroca brasileira são o pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) e o escultor Antônio Francisco Lisboa (1730-1814),mais conhecido como "aleijadinho".

(Manuel da Costa Ataíde)

(Antônio Francisco Lisboa)

Aleijadinho encontrou na Bíblia sua maior fonte de inspiração,desenvolvendo obras sacras que adornam a maioria das igrejas das chamadas cidades históricas de Minas Gerais,como Ouro Preto,Mariana,São João del Rey e,principalmente,Congonhas do Campo,onde está sua obra-prima,os 12 profetas,feitos em pedra-sabão e que adornam o santuário de Bom Jesus de Matosinhos.

(Os 12 profetas,Santuário de Bom Jesus de Matosinhos)

Sua genialidade é ainda maior se for levada em conta a doença degenerativa de que foi vítima desde 1777 e que levou a deformidade de todos os seus membros.Os Profetas só puderam ser executados graças a equipamentos especialmente confeccionados para que se adaptassem a seus pulsos e permitissem o trabalho de esculpir,pois suas mãos estavam inutilizadas.Grande parte de suas esculturas foi complementada pela pintura de Manuel da Costa Ataíde,cuja obra prima é o teto da nave da Igreja de São Francisco de Assis,em Ouro Preto,Minas Gerais.

(Teto da nave da Igreja de São Francisco de Assis,em Ouro Preto,Minas Gerais)

O Neoclassicismo


A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816,chefiada por Joachin Lebreton.Dela faziam parte,entre outros artistas,Nicolas Antoine Taunay,Jean-Baptiste Debret e Auguste-Henri-Victor Grand-Jean de Montigny.Esse grupo organizou,em agosto de 1816,a Escola Real das Ciências,Artes e Ofícios.Essa instituição teve seu nome alterado muitas vezes,até ser transformada,em 1826,na Imperial Academia e Escola de Belas-Artes.

Taunay (1755-1830) é considerado uma das figuras mais importantes da Missão Francesa.Na Europa,participou de várias exposições e na corte de Napoleão foi muito requisitado para pintar cenas de batalha.

No Brasil,as pinturas de paisagens foram suas criações mais famosas.Durante os cinco anos que permaneceu aqui,produziu cerca de trinta paisagens do Rio de Janeiro e regiões próximas.Entre eles está Morro de Santo Antônio em 1816.


Debret (1768-1848) é certamente o artista da Missão Francesa mais conhecido pelos brasileiros,pois seus trabalhos,que documentam a vida no Brasil durante o século XIX,são muito reproduzidos nos livros escolares.

Em 1791,Debret já era um artista premiado na Europa e,nos primeiros anos do século XIX,recebia encomendas da corte francesa para pintar quadros com temas relacionados ao Imperador Napoleão.(História da Arte,Graça Proença,pág.211)

Suas principais obras feitas no Brasil são o Retrato de D.João e o Desembarque da arquiduquesa Leopoldina.

(Retrato de D.João VI)


Graças a ele,foram realizadas as duas primeiras exposições de Belas-Artes no Brasil,em 1829 e 1830.A escola se responsabilizou pela difusão dos conceitos do Neoclassicismo europeu,que buscava o retorno as formas perfeitas das obras greco-romanas e privilegiava o retrato de paisagens,em detrimento das figuras humanas.

(Família de um Chefe Camacã preparando-se para uma festa,Debret)

Com a volta de Debret a França,em 1831,as paisagens brasileiras se tornam famosas na Europa,sendo que a sua obra executada no Brasil foi de grande valor documental para a História brasileira nas primeiras décadas do século XIX,em termos de iconografia.

O Academicismo


Até 1920,o Brasil vive o predomínio das manifestações artísticas geradas pela Academia Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro,que mesclavam Neoclassicismo,Romantismo e Impressionismo.Duas gerações distintas se fazem notar neste período,que foi iniciado em 1850.

A primeira,marcada pela estética romântica,privilegia a intuição e o instinto utilizando formas e temas mais populares.Os principais nomes desta época são Vítor Meireles (1832-1903) - o mais importante pintor brasileiro do século XIX,que exerceu o magistério por mais de 30 anos e cuja tela mais conhecida é o Combate Naval do Riachuelo - e seu aluno,e posterior substituto na Academia,Pedro Américo (1843-1905),o maior representante da pintura histórica brasileira,cuja tela mais ambiciosa talvez tenha sido a Batalha do Avaí,que já foi exposta em vários museus do mundo.

(Combate Naval do Riachuelo,Vítor Meireles)

(Batalha do Avaí,Pedro Américo)

A segunda geração já prevê o abandono do Academicismo e se inicia na tendência impressionista,que vai atrás da natureza e efeitos que a luz exerce sobre os objetos.Para os impressionistas,o movimento é mais importante que as formas nítidas,sendo introduzido no Brasil pelo pintor de origem italiana Eliseo Visconti (1866-1944),professor da escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro e importante decorador,sendo mostras de sua habilidade o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional,ambos no Rio de Janeiro.Outro nome famoso desta época é o do pintor Benedito Calixto (1852-1927),que retratou basicamente temas religiosos e costumes simples do interior.Tendo vivido muito tempo em Santos,litoral de São Paulo,recebeu o apelido de "Pintor do Mar" pelo grande número de marítimas que pintou.

(Porto de Santos em 1879,Benedito Calixto)

A Arte Moderna


Os ideais modernistas chegaram ao Brasil com quase vinte anos de atraso.Naquela época,a troca de informações entre os continentes era menor e mais lenta do que hoje.Além disso,havia o atraso econômico do Brasil.A arte modernista refletia o mundo da máquina,da cidade grande,da velocidade,do capitalismo industrial,da revolução social.No Brasil,essa realidade moderna estava ainda nascendo.Portanto,era natural nosso "atraso" cultural.(Será mesmo que existe esse tipo de atraso?)


As novas modas estéticas foram trazidas por jovens artistas e intelectuais da elite brasileira que tinham recursos para viajar até Paris,Berlim e Londres.

O ano de 1922 foi o grande marco do nosso modernismo.É bom lembrarmos que naquele ano estourou a primeira rebelião tenentista,o episódio dos Dezoito do Forte.Foi também o ano da fundação do Partido Comunista do Brasil.O país estava grávido de mudanças!


Os rapazes e as moças queriam divulgar a nova maneira de fazer arte e poesia que eles já praticavam havia algum tempo.Para isso,organizaram a célebre Semana de Arte Moderna de 1922,na capital paulista.Estavam lá,apresentando suas obras,jovens e atrevidos poetas e escritores,como Mário de Andrade ,Oswald de Andrade,Menotti del Picchia,Manuel Bandeira,músicos,como Heitor Villa-Lobos,artistas plásticos,como Anita Malfatti,Di Cavalcanti,Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.

A Semana de Arte Moderna foi patrocinada pela burguesia cafeeira e teve lugar no sofisticado Teatro Municipal de São Paulo.Mesmo assim,os visitantes ficaram chocados.A linguagem era tão nova e inesperada que o público,acostumado com a arte acadêmica tradicional,considerou aquilo tudo uma grande bobagem.


(o imponente Teatro Municipal de São Paulo)

Teve gente que vaiou,ficou imitando galinha e cachorro durante as declamações de poesia,jogou tomates e ovos nos músicos.Essa reação não era nova nem inesperada: pouco tempo antes,o escritor Monteiro Lobato já havia atacado a pintura modernista de Anita Malfatti. Uma mostra de que alguns intelectuais não compreendiam as novas propostas.

(A Estudante 1915-1916,Anita Malfatti)

O modernismo foi muito importante para a cultura brasileira.Estimulou os escritores e artistas a criarem uma cultura genuinamente brasileira.Já que era diferente da Europa e dos EUA,o Brasil deveria criar uma cultura adequada a sua própria realidade,que levasse os brasileiros a compreenderem melhor a si mesmos e ao seu país. Oswald de Andrade falava da cultura antropofágica.Como você sabe,os antropófagos são comedores de gente.Pois os brasileiros deveriam ser antropófagos em relação a cultura européia.Ou seja,em vez de rejeitá-la,deveriam absorvê-la.Mas de um jeito especial: matando,devorando e aproveitando seus sucos vitais para se desenvolverem com autonomia.

(Antropofagia,de Tarsila do Amaral,é um exemplo da pintura que tanto chocou os críticos conservadores brasileiros)

(Diana Caçadora mostra formas delicadas e arredondadas,quase geométricas,típicas de Victor Brecheret) 

A Arte Contemporânea


Em São Paulo,o Concretismo se resumia a formas rigorosas,ao preto e ao branco.No Rio de Janeiro,o Neocentrismo surge como reação,desenvolvendo estruturas tridimensionais e obras de efeito visual e também tátil.Para os neocentristas,o público é parte da obra,podendo e devendo tocá-la,senti-la e até mesmo experimentá-la.O grande concretista brasileiro é Hélio Oiticica (1937-1980) e seus Parangolés - estandartes e capas feitos de tecido para serem vestidos,que não deixavam de ser obras de arte.

(Parangolés,Hélio Oiticica)

A partir da década de 60,as artes plásticas brasileiras passam por estilos vários como o Neo-abstracionismo,a Pop-art,a performance e a neofiguração,sem que nenhum se firmasse realmente como movimento.Vários nomes surgem e desaparecem do cenário artístico brasileiro repentinamente,buscando uma identidade que ainda está por vir.As instalações (obras em que os artistas usam um espaço - ao ar livre ou fechado - e montam obras misturando objetos e tendências variadas) são o retrato dos anos 90,quando muitos artistas buscam no ecletismo uma forma única de representação de sua arte.

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