sexta-feira, 19 de abril de 2013

São Paulo SP, retrospectiva de Alex Vallauri, Museu de Ate Moderna - MAM, até 23/06/13

SÃO PAULO - Nos anos 70 e 80 os muros da Pauliceia eram suportes para imagens que se tornaram ícones, como "A Rainha do Frango Assado"...

José Henrique Fabre Rolim
Artes Plásticas Foto : Divulgação

SÃO PAULO - Observando a dinâmica das mostras em cartaz atualmente percebe-se que algumas se destacam pela releitura de obras conectadas ao tempo em que foram concebidas. O Museu de Arte Moderna (MAM – Parque Ibirapuera) apresenta uma grande exposição “Alex Vallauri - São Paulo e Nova York”, que traça o percurso desse excepcional artista gráfico, pintor, gravador, desenhista e grafiteiro, um dos precursores da street art no Brasil. 

Nos anos 70 e 80 os muros da Pauliceia eram suportes para imagens que se tornaram ícones, como “A Rainha do Frango Assado”, uma mulher curvilínea com luvas pretas, num clima sensual, um dos seus personagens mais famosos, que chegou a ser personificado por sua amiga Claudia Raia, que na época tinha 18 anos. Acrobatas, botas de cano alto, luvas, cartolas e outros tantos ícones além da apropriação de figuras de histórias em quadrinhos como Mandrake de Lee Falk, coloriam a cinzenta paisagem urbana. 

As suas imagens ganham outras dimensões quando transferidas para o papel conquistando a arte postal e os livros de artista. Utilizava intensamente o stencil, moldes de papelão como máscaras que recebiam tinta em spray, espalhando seus ícones pelos muros da Paulista, da Consolação e de tantos outros locais.

Vallauri (1949-1987) nasceu na Etiópia, mas seus pais eram italianos, em 1964 chega ao Brasil, tendo se estabelecido em Santos, onde produziu obras gráficas envoltas no tema do porto com características típicas do bas fond da área, focalizando as atividades dos estivadores e das prostitutas.

Na época em que esteve em Nova York, entre 1982 e 1983, cursou artes gráficas no Pratt Institute, onde conheceu Jean-Michel Basquiat, seu amigo e parceiro nos grafites realizados na Big Apple e Keith Haring, um dos grandes revolucionários da arte de rua.

Participou da Bienal de São Paulo em 1971, 1977, 1981 e 1985 quando finalmente se consagra com a instalação “Festa na Casa da Rainha do Frango Assado”, ocupando um espaço estratégico tendo sido uma das atrações mais comentadas daquela 18º edição, reunindo uma série de grafites que vinha desenvolvendo no decorrer de sua carreira. Acoplando objetos do cotidiano, criou cenograficamente uma casa abarrotada de ícones do consumo, tendo inclusive grafitado um Monza vermelho, que na ocasião acabei clicando, sem saber que se tornaria uma das raras imagens do veículo, uma obra de arte desfeita com o tempo.

A retrospectiva de Alex Vallauri com curadoria de João Spinelli é formada por 200 obras entre instalações, fotocópias, pinturas com spray, vídeos, objetos, aliás, ele grafitava uma infinidade de peças como televisores, cadeira, lixeiras, não havia limites para expressar sua arte, os muros eram apenas uns dos suportes de sua intensa produção.

Warhol, a estrela pop

Curiosamente o outro destaque do MAM é a mostra “Lady Warhol”, uma série de fotografias, intensamente coloridas, em que Andy Warhol aparece vestido de mulher com uma maquiagem exagerada, típica dos anos 80. A androginia das imagens focadas por seu amigo Christopher Makos eterniza a excentricidade do personagem, uma forma de contestar padrões de comportamento, foram utilizadas 8 perucas, além de roupas usuais de trabalho, camisa branca, gravata e jeans. Na pose duas atitudes são essenciais, o olhar perdido no horizonte e um ar glamouroso como fazem os modelos de passarela. A mostra formada por 50 imagens inspiradas nos retratos feitos por Man Ray de Rrose Selavay, personagem feminina interpretada por Marcel Duchamp, representa a ambiguidade da expressividade humana, a sutileza de um olhar, de uma postura no limite da fragilidade dos opostos, a eterna dualidade existencial. A curadoria foi realizada pela produtora espanhola La Fábrica, responsável pelo festival PhotoEspaña. 

Poesia Concreta

O Instituto de Arte Contemporânea – IAC (Rua Dr. Álvaro Alvim, 90, Vila Mariana) lançou em colaboração com a Editora Bei, dois livros inéditos “32 poemas (1953 /1957)” e “poemas & poems” com poesias concretas de Willys de Castro (1926-1988) resgatando a sua linha estética numa visualidade lírica impecável, extremamente envolta no ritmo das formas. As preciosas edições seguem as linhas mestras deixadas pelo artista conforme projeto de publicação do final dos anos 50, conservado nos arquivos do IAC. Tudo foi religiosamente obedecido conforme o modelo do artista, conservando os tipos datilografados e as correções executadas a lápis como o próprio formato da publicação. Deve-se também frisar que graças a sua formação musical, criou partituras de verbalização para poemas de Augusto e Haroldo de Campos, Ronaldo Azevedo e Décio Pignatari entre tantas expressões do concretismo. Willys foi gravador, desenhista, artista gráfico, cenógrafo, figurinista, músico e poeta deixando uma obra diversificada numa linha estética concretista, um trajeto revelador de sua potencialidade artística renovadora.

Fonte :
http://www.dci.com.br/shopping-news/panoramicas-reveladoras-id342513.html

Mais :
http://misturaurbana.com/2013/04/alex-vallauri-sao-paulo-e-nova-york-no-mam/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=alex-vallauri-sao-paulo-e-nova-york-no-mam

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