Qual é a relação entre pintar um quadro e governar uma cidade? No quadro, o artista deixa fluir sua imaginação, impõe seus gostos, expressa suas idéias, não sofre restrições de espaços físicos para o que deseja retratar, nem é limitado por recursos administrativos para construir sua paisagem. A beleza do local mostrado pode até ser utópica, as cores exageradamente fortes e a vida exibida de forma paradisíaca.
Um governador, se pudesse, atuaria como um pintor. Criaria sua cidade com uma beleza deslumbrante, limpa como a água do mais intocável regato e a faria funcionar com a mesma harmonia da natureza, sem excessos nem carências.
Mas, entre as infinitas possibilidades da arte e a complexidade de uma área urbana situam-se o real, o concreto e o verdadeiro. Um governador sente-se obrigado a dosar sua criatividade artística em função das características de uma cidade que sofre influências sociais, políticas e econômicas de diferentes valores e variadas intensidades.
No quadro, o pintor pode optar por incluir ou não a presença humana. Talvez prefira conservar a natureza intocável, sem o risco de influências ou alterações de pessoas que interfiram no pedaço de mundo que ele imaginou.
Em situação contrária, um governador tem o ser humano como o principal elemento de sua paisagem. Afinal, pessoas são a razão da existência de uma cidade. Elas exigem, requerem, demandam, impõem e solicitam recursos técnicos e materiais em quantidades cada vez maiores e em condições mais sofisticadas à medida que cresce o espaço urbano e, em conseqüência, aumentam suas necessidades.
Nesse sentido, desejo que o governador Agnelo Queiroz possa governar o Distrito Federal com a sensibilidade de um artista, mas sem perder a competência de um bom administrador. Que seja feliz na criação de sua obra de arte; que a faça admirada por visitantes e querida pelos habitantes. Que seu quadro estampe uma cidade limpa, organizada, segura, com serviços públicos eficientes, com ótima qualidade de vida, e que, em retribuição, possa retratar um povo feliz, hospitaleiro, pacífico e disciplinado, que sirva de exemplo para outras cidades brasileiras.
Espero que em meio a tantas responsabilidades nosso governador não se esqueça de apoiar e valorizar a cultura em Brasília, dando a devida importância e relevando o trabalho dos artistas locais.
Sendo uma carioca tão bem acolhida por Brasília, torço pelo sucesso dessa cidade que, por sua história, e pela forma incomum como foi planejada e construída, tornou-se um marco artístico, cultural e arquitetônico do Brasil.
Malu Perlingeiro
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